Busca pela espiritualidade

04/07/2017 - 9:00

Religião, fé, espiritualidade, paz… Têm sido uma busca constante em minha vida, e sempre com muita ansiedade para encontrar as respostas a centenas de questionamentos e aliviar o aperto no peito. E quero respostas rápidas, claro (e quem não quer?).

Nossa identidade, também na espiritualidade, é formada pela família. Minha mãe era católica praticante e meu pai cristão maronita. Eu frequentava igreja desde menina, como o grande “programa” da semana. Domingo era dia de roupa nova e engomadinha, no maior capricho.

Essa religião me provocava questionamentos – seus dogmas, seus pecados, a hóstia que não podia ser mordida e aí vai… Nada pode e tudo deve. Também não entendia muito bem as promessas, sentia como uma troca, um contrato com Deus. Se fizer isso, terá aquilo. Que Deus era esse? E os porquês iam se acumulando na minha cabeça de menina.

Valores, sim, devem ser passados pela família – valores morais, respeito pelos outros, comportamento na sociedade –, mas acredito que o caminho da fé precisa estar sempre aberto para novas descobertas. Cada um deve escolher o que faz bem para sua alma e sentir o que realmente lhe acrescenta, aquilo que dá sensação de paz interior e acalma quando a vida provoca.

Desde cedo, tive a sensação que “eu deveria dar conta do mundo”. Prematuramente, passei do conto de fadas e da fantasia infantil para um aterramento brusco no mundo real. Aconselhada por amigos fui buscar, com meu pai, a doutrina espírita kardecista, num momento de grande turbulência na minha família. Pensei comigo: e agora, como contar para minha mãe, como ela vai reagir? Para minha surpresa, apesar dela ter estranhado, ficou em silêncio, o que para mim transmitiu uma certa permissão.

Como em tudo que faço, vou fundo, nem que seja por curiosidade. Comecei a estudar a doutrina e no Grupo Maria de Nazaré trabalhei quase 15 anos com tratamento de cura pela imposição das mãos. Mesmo com o passar do tempo, meus questionamentos continuavam a me acompanhar. Qual a minha missão? O que vim fazer aqui? Estou no caminho certo?

Ao longo da vida, fui fazendo uma analogia entre religião e espiritualidade e conclui que na religião eu buscava algo externo, algo que vem de fora para dentro. Sempre pesquisando e lendo muito ouvia com frequência um “mantra” que perdura até os dias de hoje: “a felicidade esta dentro de você”. Ora, se estava dentro de mim por que eu não a encontrava? Os resquícios da educação com culpas e medos estavam sempre presentes.

Hoje, claramente, sinto que a diferença é que a espiritualidade é uma viagem interior, uma jornada para o autoconhecimento. Eu me comunico com o Deus católico, com Alah, com Buda. Eu me inspiro e pratico (às vezes) meditação indiana, meditação egípcia e mergulho na filosofia e na psicologia. Tudo me interessa e cada vez mais percebo que os percursos são diferentes, mas vão desembocar no mesmo lugar – você mesmo.

Sinto que passei a ser responsável de fato por mim mesma – sabendo lidar melhor com meu interior (ou alma ou inconsciente), conversar com “Ele” com Deus” – afinal “Ele” sou “Eu”. Ninguém melhor para aplacar minha alma e responder aos meus questionamentos que eu mesma. Sou a única responsável pela minha vida. Em mim mora o Deus e o demônio, a luz e a escuridão, a paz e a infelicidade, a pergunta e a resposta. Tudo tão pertinho, mas o percurso não para – nosso “Eu” é rico e interminável nas suas mensagens.

A máxima: “A religião não é apenas uma, são centenas. A espiritualidade é apenas uma, e é para os que prestam atenção na sua voz interior”, de Pierre T. de Chardin, padre jesuíta e filósofo francês, resume bem o que eu sinto dentro de mim e cala alguns dos meus questionamentos.

Foto de abertura: Livia Ryan

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